sexta-feira, 3 de maio de 2013



Eu sou o tipo de pessoa apaixonada pelos pequenos prazeres da vida, incluindo pequenos mimos para amigos e pessoas próximas. E, infelizmente, lendo uma matéria muito fofa na revista Bons Fluidos, neste feriado, percebi que me esqueci destes pequenos prazeres e mimos. 
Nesta matéria o escritor contava sobre um costume português, já praticamente esquecido, que foi agregado à cultura de uma região do sul do nosso país, chamado Um pão, por Deus. 
Na verdade, este costume não tem nada a ver com um pedido de pão, nem mesmo se dirige a Deus. 
Na época de novembro, os adeptos deste costume confeccionavam um coração de papel onde escreviam um pedido de carinho ou uma ajuda, todos em forma de versos. E a pessoa que recebia o coração devolvia o carinho ou prestava a ajuda requerida.
Pensa, quem não se derreteria ao receber um pedido de ajuda escrito num coração de papel? Acho que esta era uma forma de não ter o pedido de ajuda negado... rs... Da próxima vez, tentarei pedir ajuda deste jeito.
Enfim, o que interessa é que há tempos esses pequenos mimos, e os pequenos prazeres da vida vem sendo esquecidos. Não somente por mim, acredito, mas por todos aqueles que foram absorvidos pela correria do dia a dia. 
Desde que a internet tomou conta do universo (rs) parece que o tempo não possui mais as 24 horas. E dá-lhe correria para darmos conta de tudo o que é necessário num único dia.
Prazeres pequenos? Nem nos lembramos que existem. As leituras foram esquecidas, os passeios fotográficos viraram tenras lembranças e os cafés com amigos improváveis.
Como resultado, vemos pessoas mais estressadas. Nas grandes cidades, principalmente, é muito comum o desfile de carrancas, de olhares cansados, de almas desacalentadas pelas ruas, apesar das belas vestimentas de trabalho. 
Depois que li a matéria Um pão, por Deus, resolvi que não quero me esquecer totalmente dos pequenos prazeres e acabar me tornando uma dessas pessoas de alma desacalentada a vagar pela vida. Quero ter tempo para um chá com bolo com os amigos. Quero ter tempo para um bom livro, para algumas risadas e, até mesmo, para sentar e observar o por-do-sol sem me culpar por isso.
Hoje, quando paramos, nos sentimos culpado. Este é um sentimento que também acredito não ser somente meu. É quase como se pensássemos: o mundo produzindo e eu aqui aproveitando o ócio. Ah, aproveitar o ócio é tão bom! Aproveitar o ócio com criatividade, melhor ainda.
Que venham os bons momentos, os pequenos prazeres, as conversas e risadas com amigos... Que venha a verdadeira felicidade.




terça-feira, 30 de abril de 2013

Passa passarim...




Logo pela manhã um piadinho de passarinho-neném se ouvia da janela do quarto. Pensou que fosse mais um passarinho a visitar uma de suas plantas do quintal, por isso não se importou tanto com o fato.
Passadas algumas horas, e pela necessidade de ir ao quintal dar de beber às suas plantas, avistou um passarinho muito pequeno. Tão pequeno que nem voar, ainda, sabia.
Num primeiro momento ficou a se perguntar como ele foi parar ali sem se machucar e procurou nas árvores em volta um ninho onde pudesse devolvê-lo. Em vão...
Se preocupou com o fato de não saber como ele iria se alimentar, ou mesmo como aprender a voar e sair a explorar o mundo com as pequenas asas que Deus lhe presenteou.
Resolveu esperar algumas horas, pois, quem sabe, sua mãe viria buscá-lo. Mas, mesmo se viesse, como iria levá-lo para proteção de seu ninho? Pois, por mais que ela desejasse, seria impossível carregá-lo.
Quem sabe a própria natureza desse um jeito...
Incrívelmente, não precisou esperar muito!
Qual não foi sua surpresa ao ver a mãe do pássarinho- neném aparecer para alimentá-lo.
Se escondeu e observou por alguns momentos.
Ela, a mãe, ia e vinha com frequência. Alimentava seu filho, ficava um pouco ao lado dele, e voava.
Voltava depois de certo tempo, o alimentava. Por vezes, voltava apenas para ficar a seu lado.
Enquanto estavam juntos, conversavam conversas de passarinhos. Piu, piu, piu... piu, piu...
Parou e pensou, sim, são todas iguais. As mães cuidam, protegem, fazem o impossível para estar junto, à maneira e possibilidade de cada uma...
No outro dia, ouviu um piadinho um pouco diferente daquele que ouviu no dia anterior.
Sua curiosidade foi tão grande, que, correndo silenciosamente, foi ver de quem.
Olhou e não acreditou. Eram, agora, dois passarinhos-nenéns, incapazes de voar.
Novamente parou e observou.
 Novamente, a mãe veio, alimentou, desta vez os dois, conversou e foi embora. Voltou, alimentou, conversou, e foi embora.
As vezes, quando se sentia ameaçada,  ela ia, não para longe, mas para um galho de árvore próximo. Outras vezes, conversava com eles de cima do telhado, mas nunca os abandonava.
Algumas semanas se passaram, exatamente, na mesma rotina.
Os passarinhos-nenéns ja estavam menos arredio a aproximação da dona da casa. E, ela, a sua maneira, se sentia presenteada por Deus.
De repente, o maiorzinho, que foi quem chegou depois, começou a dar vôos rasantes. Logo sairia para conhecer o mundo, batendo suas pequenas asinhas...
Quando amedrontado, empolieirava-se na janela, no banco, em uma folha, todos de pouca altura, até que um dia, voou alto e alcançou sua mãe que estava o tempo todo a animá-lo com sua linguagem de passarinho a subir um pouco mais alto.
Daí em diante, seguia a mãe algumas vezes, voltando sempre com ela quando vinha alimentar o menorzinho.
A dona da casa chegou a pensar que ele, o menorzinho, pudesse não sobreviver, teve medo que sua mãe e irmão o abandonassem. Pensamento idiota.
No outro dia, viu que o irmão, mesmo já voando e podendo acompanhar a mãe, ficava ao lado do irmão pequeno, protegendo, conversando em sua linguagem de passarinho. Só se ausentava quando se sentia ameaçado.
Impossível saber se permanecia por amor ao irmão ou por ordem de sua mãe, mas o fato é que permanecia.
Em pouco tempo, o menorzinho começou a dar raros voos rasantes. Estava sempre muito amedrontado.
Mostrava que precisava muito da companhia da mãe e do irmão... E ela, nunca deixou de vir.
E assim, permaneceram, vários dias, na verdade, algumas semanas - passarinhos não aprendem a voar rapidamente.
Um dia, quando o pequeno já estava bastante desenvolvido em sua “voança” pelo quintal, a dona da casa pensou que "logo iriam embora".
Observou por algum tempo mais. Logo sentiu falta do mais velho e percebeu que a mãe também não estava, somente o menorzinho. Será que haviam ido embora? Mas depois de tanto tempo e esforço  por que iriam e abandonariam o menor?
Mais tarde, foi ao quintal buscar algo de que precisava. Passou pelo banheiro dos fundos e notou a porta aberta. Logo, sentiu um gelo em seu estômago, como se tivesse tomado, de uma só vez, uma garrafa de água muito gelada.
Parou à porta e teve medo de entrar. Não teve jeito. Entrou. Para seu desespero, o irmão maior, que cuidava com tanto carinho e atenção do pequeno, estava imerso, paralisado, com suas asas abertas, na água do vaso sanitário...
Sentiu um ódio tão grande, que era impossível de explicar em palavras. Sentou, chorou e rezou...
A grande estupidez de quem esqueceu aquela porta aberta, era algo de tão grotesco que preferiu não saber quem foi...
A culpa, a tristeza lhe consumiu por vários dias... Aquela lembrança, até hoje, a emudece...
Passados mais alguns poucos dias, o irmãozinho apredeu a voar alto, alcançado e acompanhando a mãe. E, foram embora, sozinhos...
Vez ou outra, ela ainda aparece, chamando o outro com sua linguagem de passarinho:  Piu, piu...
Enquanto ele voa alto no céu dos passarinhos.

(Este texto é muito antigo. Acho que do ano de 2006. Mas foi uma das experiências mais marcantes que já vivi).

sábado, 7 de julho de 2012



Confesso, nunca pensei que a saudade causasse tanta falta de ar. Uma falta de ar que faz parecer que meus olhos serão fechados e que adormecerei para sempre. Esta saudade é capaz de me proporcionar sonhar tanto no mundo dos sonhos quando no mundo real, de olhos abertos.
Não sei quantas vezes, nestes últimos tempos, repeti que deveria ter continuado de olhos fechados. Confesso também não saber se esta sensação que me sufoca fora causada exclusivamente por um rápido abrir de olhos, ou se estava  predestinada a ser vivida. Talvez estivesse predestinado, pois na vida a gente precisa aprender muitas coisas, e, neste momento, estou aprendendo algo novo. Uma sensação nova, na verdade.
Tudo o que é novo nos assusta, mas, não estou assustada, estou sufocada. Logicamente que por consequência, me pergunto quando uma brisa voltará a passar por mim. E, nos meus sonhos, sonho uma brisa perfumada de dama da noite, assim, docinha, daquelas que nos preenche a alma.
Não sei mais escrever, eu sei. Neste momento, a única esperança que tenho é a de desafogar minha alma. Logicamente que me permito um leve sorriso em meio a esta falta de ar, numa crença quase infantil de que uma brisa adocicada me alcançará...

terça-feira, 26 de junho de 2012

É, é verdade. Estou vivendo, simplesmente, o momento mais difícil da minha vida. E como todos aqueles que passam por momentos como este, tenha a impressão de que nunca vai melhorar. E olha que tento me concentrar no eu, na minha yoga, nas minhas músicas, no meu trabalho, nos meus estudos, mas não tenho como negar, etá difícil, viu... O dinheiro sumiu, minha paciência sumiu, e entre outras coisas, outras coisas aconteceram... Eu enxerguei, eu senti, eu quis... Pra ajudar, eu enxergo, eu sinto, eu quero...
Um turbilhão de pensamentos passa pela minha mente. Uma falta de ar toma de assalto meus pulmões. Lágrimas rolam de meus olhos sem piedade. Enquanto isso, eu espero. Percebo, porém, que preciso ir à luta, mas confesso que não se nem por onde começar. Eu quero, eu posso, eu sei. O que não sei é por onde começar. Não estou enxergando nem uma janelinha que me permita observar uma paisagem acolhedora... Não posso negar que estou assustada, nem que estou esperando enxergar uma luz no fim do túnel. Enquanto isso vou aprendendo a lidar com o sentimento nascido da órbita azul da cor do céu...

sexta-feira, 8 de junho de 2012


Na arte da descoberta, descobri que é possível não morrer de tanta falta de ar. Aquele completo céu refletido naquelas pequenas órbitas azuis espelharam o todo completo do universo. Meu ar foi retirado aos poucos, sem piedade, assim como se retira o ar em aparelhos de compressão. Enquanto fecho  meus olhos,  relembro aquele universo refletido, sentindo no peito um par de mãos a me sufocar. Sinceramente, não sei quando voltarei a respirar. Aliás, não sei como se pode sentir saudade de um reflexo (tão azul quanto o céu e o mar...). Aliás, não sabia que por saudade se suprimia o ar. 
Eu, nesta minha rudeza de ser, nem sei descrever com a poesia que se merece o causo* em questão. Como não bastam os olhos fechados que por teimosia viram, tenho em mim um coração endurecido que nem mesmo consegue descrever em palavras algo que de leve o tocou.. seria mesmo leve?, ou a teimosia persistente não permite que dê outro nome para ISSO além de falta de ar... ai, quanta rudeza... -e aqui em terceira pessoa digo: a única certeza que lhe ronda é que não sabe quando voltará a paz daqueles momentos de olhos fechados que se negam a ver o céu refletido em pequenas órbitas azuis...

terça-feira, 5 de junho de 2012



Um dia ela simplesmente olhou para o lado. Olhou e viu. Estava lá. O irônico é que já não acreditava mais que veria. Mas, a verdade é que quem tem olhos um dia enxerga, mesmo passando muito tempo se negando a olhar. Afinal, os olhos foram feitos para ver, ou não?!
O problema é que ela não estava preparada para ver. Aliás, passou tanto tempo de olhos fechados que esqueceu se há, ou não, meios de se preparar para ver. 
No exato momento de ver um calor invadiu sua alma e um sorriso brotou em seu rosto. Ela tinha esquecido como era este sentimento de mornidade ver. A paisagem era assim do tipo perfeitinha: um sol quentinho, um rio cristalino, arvores fornecendo sombras, gramas fofinhas para sentar e descansar. Tudo assim, gostosinho, cheio de melodias. Até borboletas sobrevoavam o local.
O sentimento de ver foi tão surpreendentemente bom que ela acreditou. Como ela se deixou deslizar assim é algo que se pergunta até agora. Mas acreditou e sorriu.
Porém, piscou e naquele segundo a visão sumiu, restando somente a lembrança da visão que permanecerá até se tornar um esquecimento...